Aquele Inverno em Veneza (Don´t Look Now)

Donald Sutherland e Julie Christie encarnam um casal fragilizado pela recente morte da sua pequena filha. Sutherland deixa Londres com a esposa e parte para Veneza, onde vai trabalhar no restauro de uma igreja antiga. Eles fogem ao seu drama pessoal e procuram refúgio na cidade italiana. A sua fuga ao ambiente onde decorreu a tragédia pareceria uma solução ideal mas em Veneza eles vão encontrar algo mais de terrível e de inevitável. O perigo, esse não se sabe bem de onde pode vir. Mas a inquietação está presente em quase todas as cenas do filme, às vezes, metamorfoseando-se em medo evidente, outras vezes numa angústia contida mais ou menos indescritível. O encontro insólito e recorrente com as duas idosas inglesas é determinante. Sendo uma delas cega e declarando-se “médium”. E testemunhando que vê a filha do casal no meio deles. Os olhos da senhora são baços e sinistros. Mas não serão aquelas mulheres particularmente estranhas e suspeitas? Laura (Julie Christie) acredita no que lhe é dito e a possibilidade de a filha estar viva parece deixá-la serena e esperançosa. Mas acreditar numa mentira pode ser uma falsa abertura para a felicidade. John (Donald Sutherland) é ateu, céptico e demove-se de acreditar em tudo o que lhe declaram. Se ele corre perigo, e as premonições existem e fazem sentido, uma tragédia pode estar a abater-se sobre ele. Este inquietante filme transporta-nos para um universo angustiante em que os acontecimentos se desenrolam diante dos nossos olhos sem a nossa compreensão das realidades. Mas atenção: ao contrário do que acontece com David Lynch, que cada vez mais filma o irracional e o inconcebível, Nicolas Roeg cede aqui uma resolução para todos os enigmas. Tudo tem uma explicação, todas as peças do «puzzle» se encaixam com engenho e nada é deixado ao acaso. O argumento genial é inspirado num dos contos insólitos mais brilhantes que já li: Don’t Look Now da romancista inglesa Daphne Du Maurier. É um conto que se lê com fascínio e que justapõe o drama pessoal dos personagens à fatalidade em que se vêem enredados num sombrio Inverno passado em Veneza. O brilhantismo do realizador Nicolas Roeg está em conseguir transpor o elemento macabro e insólito do conto para um filme que ele constrói com maestria e talento. Respeitando a história original mas concebendo-a como um interessante produto cinematográfico. Don’t Look Now, título original do filme, é a primeira frase expressa na narrativa de Daphne Du Maurier e também o título do conto. Curiosamente, no filme, nenhum dos personagens profere esta expressão. O Não olhes agora evidencia desde já uma inquietação sobre qualquer coisa, qualquer entidade, qualquer fenómeno que se pode abater sobre nós.
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O Inquilino (Le Locataire)

Trelkowsky, um empregado de escritório, está à procura de apartamento para alugar. Fica a saber de um num velho prédio e vai até lá, mas o apartamento não lhe pode ser alugado porque a moradora, que tinha tentado o suicídio (ela tinha-se atirado de uma janela), está internada num hospital. Trelkowsky decide ir visitar a mulher. Encontra-a em coma e, na ocasião, conhece Stella, uma jovem amiga da suicida. Os dois saem juntos do hospital, e a inquilina falece. Trelkowsky pode finalmente alugar o apartamento e, assim que se muda, dá uma festa de inauguração, que marca o início de uma série de acontecimentos estranhos. Roman Polanski como actor faz um trabalho admirável. A descida ao inferno de Trelkovsky está expressa no rosto de Polanski - vamos vendo no rosto dele a alienação a chegar, a crescer, tornando-se mais poderosa do que ele. Se Polanski tivesse se dedicado a essa carreira actor, poderia ser um dos maiores actores da história do cinema. Ele demonstrou uma perfeita veia cómica como o assistente pateta do cientista em The Fearless Vampire Killers, de 1967. Foi brilhante como policia em Uma Simples Formalidade/Una Pura Formalità, de Giuseppe Tornatore, de 1994. Em Chinatown, de 1974, tem um papel pequeno, mas marcante, como o homem que dá uma facada no nariz do detetive interpretado por Jack Nicholson."Le Locataire", faz parte da trilogia de terror psicológico também conhecida como "triologia do Apartamento", iniciado com "Repulsa", e "A Semente do Diabo". Todos eles falam da vida em apartamentos nos grandes centros urbanos e suas pertubadoras relações com os outros, revelando um isolamento fatal.

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O Corredor do Silêncio (Shock Corridor)

O norte-americano Samuel Fuller é um atípico caso de realizador muito à frente do seu tempo. Ele sempre gostou de filmes vibrantes, apaixonados, que mexessem com temas tabus, o que o afastou bastante do público, inclusive daquela fatia mais exigentes de cinéfilos. Tanto é verdade que é muito difícil encontrar filmes dele na internet. É provável que isso tenha acontecido por uma razão simples: Fuller adorava mexer em vespeiros. Onde ninguém mais tinha coragem de meter a mão, lá estava ele a enfiar os dedos. Shock Corridor, é um dos filmes mais conhecidos que ele fez, tem todos os atributos que marcaram a sua obra. A longa-metragem veio antes do chocante e polémico “Naked Kiss”, que falava de pedofilia, da maneira abusada e sem rodriguinhos que sempre caracterizou a abordagem do realizador. “Shock Corridor” é um pouco mais suave, mas só um pouco. O filme narra a saga do ambicioso jornalista Johnny Barrett (Peter Breck), que simula insanidade para ser internado num hospício e investigar o misterioso assassinato de um paciente cometido dentro desta instituição. Lá dentro, ele pretende entrar em contato com três outros pacientes que assistiram ao crime. A esperança de Barrett é conseguir extrair deles o nome do assassino e, assim, ganhar o prémio Pulitzer, o mais importante do jornalismo internacional.
Drama / Mistério
Ano: 1963
País: E.U.A.
Duração 101 minutos
 Realizador: Samuel Fuller
Cast:
Peter Breck
Constance Towers
Gene Evans
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Os Amantes do Círculo Polar (Los Amantes del Círculo Polar)

Otto e Ana conheceram-se quando eram crianças. Conheceram-se por acaso, as pessoas relacionam-se por acaso. É uma história de vidas circulares, com nomes circulares, e um lugar circular (O Círculo Polar), onde o dia nunca acaba com o sol da meia noite. Há coisas que nunca acabam e o Amor é uma delas. Tudo começa em 1980, quando têm oito anos saem do colégio a correr por diferentes motivos. Desde essa tarde começa a desenhar-se um círculo que só se completa dezassete anos mais tarde, quando ambos têm vinte e cinco anos. Existem filmes que conseguem passar uma sensação quase mística, que transcende a linguagem cinematográfica e a narração. Os Amantes do Círculo Polar (Los Amantes del Círculo Polar, Espanha, 1998), de Júlio Medem, é um destes casos, porque tem um sabor decididamente diferente, difícil de ser descrito, mas que chega ao espectador e o atinge em cheio. Este é um filme especial, onde se nota imediatamente o trabalho de um realizador que tem uma visão muito peculiar do mundo. Medem fotografa em tons brancos e azuis, formato CinemaScope. Não tem o "calor" que se espera de um realizador espanhol, uma vez que o filme até se mostra bastante frio, especialmente no seu final, que poderá dividir o público entre os que o acham poético, e outros que poderão sentir-se perturbados com a sua crueldade. Mesmo assim, não há indiferença perante tanta técnica e idéias fortes que fazem deste filme, um dos melhores do cinema espanhol. Ignorado nos Goya, este filme correu o mundo ganhando prémios em varios festivais, incluindo uma passagem pelo festival de Veneza.
Drama/Mistério/Romance
Ano: 1998
País: Espanha
Duração: 112 minutos
Realizador: Júlio Medem
Cast:
Najwa Nimri
Fele Martínez
Nancho Novo
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Contos de Loucura Normal (Storie di Ordinaria Follia)

Contos de Loucura Normal é um dos mais elogiados filmes de culto dos anos 80.lnspirando-se na vida e na obra do poeta underground Charles Bukowski,o cineasta Marco Ferreri criou um filme replecto de erotismo e lirismo. Charles Serking (Ben Gazzara) é um poeta rebelde e alcólico que vive no submundo de Los Angeles, no meio de prostitutas e marginais. Numa de suas maratonas pelos bares, conhece a linda prostituta Cass (Ornella Muti), com quem inicia um tórrido e trágico romance. Poucas vezes se encontram artistas tão em sincronia como Charles Bukowski e Marco Ferreri neste filme. Ferreri adapta um romance chamado "Erections, Ejaculation, Exhibitions, and General Tales of Ordinary Madness" e consegue ser tão honesto como a fonte original. Tal como a maioria dos filmes de Ferreri, foi lançado sob uma certa polémica, mas nada como o tempo para fazer justiça a uma grande obra. Ferreri ganhou aqui, pela única vez na sua carreira, o prémio de melhor realizador nos David di Donatello Awards, que são os Óscares italianos. Drama
Ano: 1981
País: Itália/França
Duração: 101 minutos
Realizador: Marco Ferreri
Cast:
Ben Gazzara
Ornella Muti
Susan Tyrrell
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Tristana, Amor Perverso (Tristana)

Desde 1963 que Buñuel andava à volta desta adaptação do romance clássico de Benito Pérez Galdós.Tem a ver com um dos seus tópicos preferidos: a sedução e a corrupção de uma inocente, Tristana (Catherine Deneuve), por um homem mais velho, Don Lope (Fernando Rey), um cavalheiro cujos ideais políticos abertamente proclamados são muito mais radicais do que a maneira como trata as mulheres. Tristana sobrevive a esta opressão, após perder uma perna, redobrando a sua perversidade e espalhando os seus efeitos. Regresso de Buñuel a Espanha, embora numa cooperação com Italia e Espanha, este é considerado um dos melhores filmes do realizador surrealista. Luis Buñuel tinha paixões e ódios fortíssimos. Na sua biografia, Buñuel dedica uma página e meia a Tristana. Diz que, embora a novela de Benito Perez Galdos, na qual o filme se baseia, não seja das melhores do autor, sempre se sentiu atraído pela personagem de Don Lope. “Atraí-me também a idéia de mudar a acção de Madrid para Toledo e render, assim, homenagem à cidade tão querida.” Pensou em Fernando Rey, com quem tinha trabalhado em Viridiana, de 1961, e “na jovem actriz italiana de quem gostava muito, Stefania Sandrelli”. O projecto não saiu na época; mais tarde, Catherine Deneuve – que tinha trabalhado com ele três anos antes, em 1967, em La Belle de Jour – escreveu-lhe várias vezes oferecendo-se para o papel principal. Ganhou vários prémios, mas destaca-se uma nomeação ao Óscar de Melhor Filme em lingua estrangeira.
Drama
Ano: 1970
País: Espanha/Itália/França
Duração: 95 minutos
Realizador:Luis Bûnuel
Cast:
Catherine Deneuve
Fernando Rey
Franco Nero
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Os Amantes Regulares (Les Amants Réguliers)

François tem 20 anos em Maio de 1968, tempo de revoltas estudantis em França. Há cargas policiais sobre as barricadas construídas pelos jovens. E aí que pela primeira vez se cruza com a bela Lilie. Perseguidos nos telhados, conseguem escapar da polícia de choque. De manhã, sente que viveu uma guerra civil e Lilie desapareceu. François escreve, é um poeta não publicado, com os seus amigos, artistas e estudantes. São uma dezena, têm entre 20 e 25 anos: fumar haxixe, a descoberta do ópio, mudar a vida, as festas, as miúdas... Lilie reaparece uma noite. O desejo de revolução é forte. Mais forte ainda o amor que vai nascer entre os dois. Les Amants Réguliers é um lento e extenuante passeio de três horas pelas memórias do cineasta Philippe Garrel sobre o Maio de 68. De carácter claramente autobiográfico, onde Louis Garrel desempenha o papel que teria sido o do seu pai, também não é arbitrária a presença de Maurice Garrel, pai do cineasta. Les Amants Réguliers é um exercício nostálgico que saúda a Nouvelle Vague francesa nos seus aspectos mais estéticos. O preto e branco da fotografia de William Lubtchansky é, neste caso, quase literal, sem cinzentos que atenuem os ambientes escuros ou que amenizem a luz excessiva. O filme The Dreamers(2003) de Bernardo Bertolucci (também protagonizado por Louis Garrel) resumia o Maio de 68 a sexo e beleza, mas a versão, supostamente mais realista de Garrel, é desesperadamente aborrecida e pretenciosa. Sendo esta a realidade, então tudo não passou de um entretém para jovens da classe média sem nada melhor para fazer do que atirar uns quantos cocktail molotov e ficar a vê-los arder (lentamente) ao sabor do ópio (ainda mais lento). E com tanta boa música para “colorir” este filme, Garrel opta por um minimalismo onde a música, quando existe, parece estar a substituir emoções que deviam lá estar por outros meios. Garrell ganhou o Leão de Prata no festival de Veneza.

Drama/Romance
Ano: 2005
País: França
Duração: 175 minutos
Realizador: Philippe Garrel
Cast:
Louis Garrel
Clotilde Hesme
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O Sangue (O Sangue)

Uma terra de província. Natal, fim de ano. Dois irmãos. Vicente tem dezassete anos, Nino dez. Juram guardar um segredo, que tem a ver com as frequentes ausências do pai. Apenas uma rapariga, Clara, o partilha com Vicente. É que, desta vez, o pai não se ausentou apenas, como das outras. Que se passou? Só Vicente e Clara o sabem. Mistérios, promessas, separações, esperas. À força de quererem sobreviver ao seu segredo, os dois irmãos perdem-se. Primeira longa-metragem de Pedro Costa, discípulo de António Reis e um dos mais singulares realizadores do cinema português contemporâneo. Estreou comercialmente no Forum-Picoas, em 7 de Dezembro de 1990, com grande aplauso da crítica e pouco público. Mais tarde, Pedro Costa iria "renegar" os príncipios narrativos deste filme e explorar outras formas de cinema. Um dos filmes mais interessantes de um dos realizadores mais interessantes do actual cinema Português. Drama/Mistério
Ano: 1989
Portugal
Duração: 95 Minutos
Realizador: Pedro Costa
Cast:
Pedro Hestnes
Nuno Ferreira
nês de Medeiros
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Brick (Brick)

Rian Johnson é um jovem que se estreia na realização com «Brick» e é evidente que tem uma grande paixão pelo cinema noir, pois efectua uma colagem e adaptação deste estilo cujas referências são Raymond Chandler e Dashiell Hammett, autores que inspiraram inúmeros filmes. Outros noirs estiveram este ano em exibição em Portugal («Uma História de Violência», «Match Point») e mais recentemente o retro-noir «A Dália Negra», com uma realização superior de Brian de Palma. A tremenda originalidade de «Brick» reside no transporte das características do género para uma atmosfera teenager sem perder pitada do estilo.
Na sua essência, «Brick» é um filme de detectives, que se liberta do aspecto superficial do clássico noir (os detectives, os chapéus, o tabaco), mas mantém os códigos, a linguagem, o narrador activo, as características visuais. As filmagens decorrem na Califórnia do Sul, no vale de São Clemente; apesar desse facto, os exteriores são sempre em tons cinzentos e nada foi deixado ao acaso: os ângulos de filmagem, os interiores sombrios, as persianas corridas, o private-eye elevado a saco de boxe, interpretado por Bredan (Joseph Gordon-Lewitt). Ele é um jovem astuto estudante de liceu, mas que passa despercebido como o herói que tenta desvendar o mistério em torno do desaparecimento de Emily. E «Brick» não se esquece de incluir a essencial femme fatale (Nora Zehtner).
Não é normal encontrarmos filmes com esta carga de realismo num ambiente teenager. Apenas dois actores adultos têm falas no filme, um deles Richard Roundtree, aqui no papel de director da escola. Apesar de serem um pouco velhos para estarem a interpretar personagens que supostamente frequentam o liceu (17/18 anos), o triângulo formado por Gordon-Lewitt, Zehtner e Hass (Pin) é o motor do filme, mas estão bem acompanhados por inúmeras interpretações acima da média do restante casting.

Mistério/Thriller
Ano:2005
EUA
Duração: 110 minutos
Realizador: Rian Johnson
Cast:
Joseph Gordon-Levitt
Nora Zehetner
Lucas Haas
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O Estado das Coisas (Der Stand der Dinge)

A sobrevivência é em «O Estado das Coisas» o tema do filme dentro do filme, o qual é interrompido devido à falta de dinheiro e é este o argumento da ficção; esse filme dentro do filme é intitulado «Os Sobreviventes». Uma rodagem que tem como pano de fundo o Atlântico, não muito longe de Sintra, um produtor que desaparece, uma equipa de filmagem que o espera, num marasmo geral, o improvável regresso do produtor. A situação não pára de se agudizar e o realizador decide averiguar o que se passa do outro lado do Atlântico, ou seja, em Los Angeles.Para Wenders, esta procura - traduzida na viagem do cineasta à América, tentando localizar o produtor do seu filme - representa um duplo e contraditório mergulho: em primeiro lugar, no espaço mítico que o seu cinema sempre cortejou e amou; depois, na materialidade obscena (leia-se: económica) do cinema e da sua produção. Na verdade, o cineasta viaja para a América para vir a descobrir que o seu filme parou porque está a ser realizado a preto e branco e, hoje em dia, a cor é uma exigência quase incontornável de todas as produções cinematográficas. Quer isto dizer que, ao realizar «O Estado das Coisas» a preto e branco, Wenders está, desde logo, a situar o seu filme do lado de uma morte real e simbólica cujos sinais os seus personagens estão condenados a experimentar.
Drama
Ano: 1982
Alemanha/Portugal/EUA
Duração: 125 minutos
Realizador: Wim Wenders
Cast:
Allen Garfield
Samuel Fuller
Isabelle Weingarten
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Três Minutos de Vida (Sorry, Wrong Number)

A história é excelente, a narrativa é interessantíssima – toda a história vai sendo mostrada em flashbacks (há flashbacks dentro de flashbacks) à medida em que a personagem de Barbara Stanwick (Leona, ou sra. Henry Stevenson) vai conversando com as pessoas ao telefone. Adaptado de uma famosa peça radiofónica de Lucille Fletcher pela própria autora, SORRY, WRONG NUMBER é um notável thriller que conta a história de uma mulher acamada por doença e que está na iminência de ser morta por um assassino contratado pelo marido. Um tema que antecipa o nosso conhecido DIAL M FOR MURDER, de Hitchcock. Barbara Stanwyck, numa notável criação, ganhou aqui a sua quarta e última nomeação para o oscar, que nunca ganhou. Realizado pelo russo Anatole Litvak, o filme tinha ainda Burt Lancaster num dos principais papeis.

Drama/Film Noir/Thriller
Ano: 1948
País: EUA
Duração: 89 Minutos
Realizador: Anatole Litvak
Cast:
Barbara Stanwyck
Burt Lancaster
Ann Richards
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Juventude Inquieta (Rumble Fish)

Praticamente ao mesmo tempo que produzia "The Outsiders", Coppola também se envolvia na produção de "Rumble Fish". Ambos os filmes tinham muita coisa em comum além do realizador. Este também era a partir de uma história de Susan H. Hinton, e Coppola aproveitou parte do elenco do primeiro, assim como da equipa de produção. A diferença é que este consegue ser muito melhor. Francis Ford Coppola realiza esta extraordinária história sobre a adolescência urbana do Oklahoma. Rusty James (Matt Dillon) é um jovem delinquente problemático que tenta estar à altura da reputação do irmão, o motard Mickey Rourke, incontestável líder de um "gang" já extinto. Uma noite, enquanto Rusty James e os seus amigos Smokey (Nicolas Cage), Steve (Vincent Spano) e B.J. (Christopher Penn) se envolvem numa briga, o irmão regressa da Califórnia após dois meses de ausência. Ao desvendarem segredos inesperados sobre a sua infância, os irmãos decidem contrariar o seu destino, nem que isso lhes seja fatal. Mickey Rourke, um dos actores mais cabotinos de Hollywood, como o futuro viria a demonstrar, está aqui exímio no papel de Motorcycle Boy. Parece que esta personagem foi feita de propósito para ele.
Uma vez mais um elenco fabuloso, com actores que se iriam revelar grandes estrelas no futuro. Além de Matt Dillon, Mickey Rourke, Nicholas Cage, Chris Penn e Vincent Spano contava ainda no elenco com: Diane Lane, Dennis Hopper, Diane Scarwid, Laurence Fishburne e o sempre indispensável Tom Waits.

Drama
Ano: 1983
País: EUA
Duração: 94 Minutos
Realizador: Francis F. Coppola
Cast:
Matt Dillon
Mickey Rourke
Diane Lane
Dennis Hopper
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2046 (2046)

A história de um homem que em tempos amou uma mulher, que nunca a esqueceu, e que num hotel de Hong Kong, nos anos 60, esbraceja com a memória dela. Ele chama-se Chow Mo-Wan (Tony Leung) e com a excepção do bigode, e do facto de a actividade predadora se ter sobreposto ao que antes foi um romantismo suave e triste, reconhecemo-lo de outro filme, quando ele estava disponível para amar Maggie Cheung. Ela partiu, ele ficou, e, anos depois, Chow é mestre em jogos de crueldade, em que o erotismo se veste de negro, com três mulheres que passam pela sua vida e pelo seu quarto: Su Li Zhen (Gong Li, fúnebre e funesta) - o mesmo nome da personagem de Maggie Cheung em "Disponível para Amar" -, Wang Jing Wen (Faye Wong, com os trejeitos de um mundo ensimesmado, como em "Chungking Express") e Bai Ling (Zhang Ziyi, devastadoramente "kamikaze" com as emoções). Todas elas podem ser estilhaços da imagem perdida para Chow, a de Maggie Cheung, que é uma sombra que paira em "2046" - mas, se o espectador estiver atento, consegue identificar o corpo (uma das diferenças em relação à montagem vista em Cannes é que Cheung, cujo nome aparecia no genérico em letras garrafais, era praticamente invisível nessa versão, era literalmente uma sombra num plano, o que tornava tudo ainda mais fantasmagórico). Drama/Fantasia/Romance
Ano: 2004
País: Hong Kong
Duração: 129 minutos
Realizador: Wong Kar-Wai
Cast:
Tony Leung Chiu Wai
Li Gong
Faye Wong
Takuya Kimura
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Ganhar a Vida (Ganhar a Vida)

Cidália tem 36 anos, é portuguesa, e vive com a família, marido, irmã e dois filhos, num bairro dos arredores de Paris. A sua vida resume-se a trabalhar muito, para juntar dinheiro, numa comunidade fechada sobre si própria e que não gosta de dar nas vistas. Mas uma noite o seu filho mais velho é morto pela polícia, e a sua vida irá mudar para sempre. Porque não quer aceitar as explicações oficiais, a passividade e a vergonha da sua comunidade, e o sem sentido que descobre na sua vida. Esta é a história de uma personagem que a vida fará maior que a vida, ao descobrir na tragédia que a trespassa, e na morte que se instala na sua própria família, que o que tem a ganhar é precisamente uma nova vida. Ganhar a Vida é um filme português de João Canijo. Três anos depois do êxito de "Sapatos Pretos", João Canijo regressa com um novo filme, "Ganhar a Vida", onde volta a trabalhar com Rita Blanco, que com ele iniciou a sua carreira de actriz há quinze anos, e que aqui tem indiscutivelmente o grande papel da sua carreira, dando corpo a uma mulher a quem um dia a tragédia vem mudar completamente a vida. A seu lado, dois grandes actores que têm sido presença regular no cinema de João Canijo, Adriano Luz e Teresa Madruga, e duas revelações, Alda Gomes e Olivier Leite. Ganhar a Vida” é um filme mais actual que nunca. O filme estreou em 2001 mas ajuda, e muito, a levantar o véu sobre o que se passa actualmente nos arredores de Paris com os emigrantes portugueses.

Drama
Ano: 2001
País: Portugal
Duração: 115 minutos
Realizador: João Canijo
Cast:
Rita Blanco
Adriano Luz
Teresa Madruga
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I'm a Cyborg, But That's OK (Ssaibogeujiman Gwaenchanha)

Young-goon é hospitalizada numa clínica psiquiátrica por acreditar que é uma ciborgue. Ela recusa toda a comida que lhe oferecem, preferindo carregar as "baterias" através de um transistor. Young-goon usa a dentadura da avó e fala com todos os aparelhos eletrónicos. Mas o seu caso não é o único: ela está rodeada de pacientes que têm interlocutores imaginários. Quando o belo e anti-social Il-soon é internado, tudo muda para ela. Não leva muito até que eles se envolvam, mas a saúde da jovem piora de dia para dia. Depois de terminada a sua “Trilogia da Vingança” (Mr. Vengeance, Oldboy, Lady Vengeance), Park Chan-wook dedicou-se a um projecto de menor dimensão e agora adequado para quase todos os públicos (M/12 na Coreia).O filme é light até certo ponto, sendo constituído por uma galeria de personagens fortemente distintas. A acção passa-se num hospital psiquiátrico e cada paciente tem uma doença, ou mania, particularizada. Em algumas ocasiões, estas especificidades definem as personagens como uma espécie de “super-heróis” falhados. Yeong-gun é uma ciborgue, e Il-sun, além de roubar características de personalidade, insinua-se “invisível” até junto das suas vítimas. Outras personagens incluem uma mulher que vê o mundo através de um espelho e sonha com os Alpes suíços e um homem demasiado bem educado e que se julga culpado de tudo o que corre mal à sua volta (interpretado pelo conhecido actor secundário Oh Dal-su).

Comédia/Drama/Romance
Ano: 2006
País: Coreia do Sul
Duração: 107 minutos
Realizador: Park Chan-wook
Cast:
Su-jeong Lim
Rain
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This Sporting Life (This Sporting Life)

Numa partida de rugby, um jogador é duramente atingido e perde vários dentes. Numa sucessão de flashbacks a trajetória da sua vida é mostrada, desde quando ainda era mineiro de carvão e sonhava tornar-se um profissional deste desporto. Ele consegue atingir o seu objectivo e é considerado um bom jogador, apesar de bruto e arrogante. Alcança algum sucesso financeiro e envolve-se com a viúva de quem é inquilino, mas é assediado por outras pessoas... O Rugby é o desporto do famoso e excepcional “This Sporting Life”(1963),sobre a corrupção no desporto, do inglês Lindsay Anderson, então um dos jovens rebeldes (angry men) do “Free Cinema” britânico, sendo o argumento do dramaturgo David Storey e a produção de outro grande nome do Realismo Britânico, Karel Reisz. Richard Harris tem aqui um dos seus primeiros papéis como protagonista, e consegue com ele a sua primeira nomeação para os Óscares. Rachel Roberts, que já havia protagonizado outro dos grandes filmes deste movimento, "Sábado à Noite, Domingo de Manhã", foi também nomeada para Melhor Actriz na mesma cerimónia.
Drama/Desporto
Ano: 1963
País: UK
Duração: 134 minutos
Realizador: Lindsay Anderson
Cast:
Richard Harris
Rachel Roberts
Alan Badel
William Hartnell
Colin Blakely
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Que Viva México! (¡Que Viva Mexico! - Da zdravstvuyet Meksika!)

Que viva México! foi um projecto cinematográfico não terminado pelo cineasta Sergei Eisenstein, sobre a cultura do México da época pré-hispânica até à revolução mexicana. A produção foi marcada por dificuldades e finalmente abandonada. Jay Leyda e Ziba Voynow denominam-no como o seu maior projecto de filme e maior tragédia pessoal. Eisenstein chegou ao México em Dezembro de 1930, patrocinado por Upton Sinclair e pela sua esposa Mary Kimbrough Sinclair.
Em 1933, Eisenstein, preocupado pela ingerência do sobrinho da Sra. Sinclair, pediu aos Sinclair mais fundos, mas foram-lhe recusados. Devido a se esgotar o visto do passaporte, Eisenstein viu-se obrigado a regressar à União Soviética por Nova Iorque enquanto os Sinclairs receberam o filme em Los Angeles.
O material original nunca foi montado. O material filmado foi reconstruído por outros sob os títulos de Thunder Over Mexico, Eisenstein in Mexico, Death Day e Time in the Sun. Em 1979 Grigori Aleksandrov, a partir dos storyboards originais de Eisenstein, compilou Da zdravstvuyet Meksika!, uma aproximação à montagem que aquele planeara.
A estrutura do filme, na reconstrução de Aleksandrov, é de quatro episódios, mais um prólogo e um epílogo. O prólogo apresenta imagens alegóricas ao México pré-hispânico. O episódio "Sandunga" recria os preparativos de uma boda indígena em Tehuantepec. "Fiesta" aborda o ritual da "fiesta brava", enquanto "Maguey" encena a tragédia de um camponês vitimado por se rebelar contra o seu patrão. "Soldadera" (episódio não filmado) apresentaria o sacrifício de uma mulher revolucionária. O epílogo, também conhecido como "Dia de mortos", refere-se ao sincretismo das diversas visões que coexistem no México à volta do tema da morte.

Documentário/Drama
Ano: 1932
País: União Soviética
Duração: 90 minutos
Realizador: Sergei M. Eisenstein
Cast:
Sergey Bondarchuk
Grigori Aleksandrov
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Sombras (Shadows)

A história de Shadows (1959) de John Cassavetes, o primeiro filme do realizador, passa-se em Nova Iorque e envolve várias comunidades de jovens músicos de jazz que partilham uma casa como irmãos. Acompanhados por lamentos de saxofones e percussões tribais, assistimos, como se num qualquer clube nocturno, às suas lutas quotidianas por amor, dinheiro, dignidade, reconhecimento.
A câmara de Cassavetes capta os actores em plena criação do momento, do mesmo modo como ouvimos um solista de jazz - livres e expectantes. Carregando um fascínio pleno de humanidade.
O conflito central do filme centra-se no amor de David por Leila. O encontro dos dois numa festa, resolvido finalmente numa relação carnal ocasional, não encontra saída fácil e quando ela lhe apresenta os seus dois irmãos negros (sendo ela branca) causa uma reacção instantânea de rejeição por parte de David. Embora possa parecer insignificante, este pormenor carrega consigo todos os temas centrais do filme.
Com esta comunidade de raças mistas, o realizador mostra-nos uma visão melancólica da sociedade do momento e do papel que a fraternidade e a violência desempenhavam nela. Mostra-nos as dificuldades de relacionamento - na cena de pancadaria final -, os horizontes fechados e a necessidade de quebrar padrões de comportamento.
O filme não resolve este conflito, a ferida de Leila continuará aberta enquanto ela se lembrar dela. David terá aprendido o preço do racismo com a negação de um amor. O seu irmão branco vagueará pelas ruas e os dois negros (agente e cantor) permanecerão juntos apesar de o cantor chegar sempre atrasado aos encontros.
Os nomes das personagens são iguais aos nomes dos actores. O título do filme explica a relação dialéctica entre as personagens e os actores. No final da corda está o espectador a viver o momento na mesma altura que os actores - tal como num solo de jazz.

Drama
País: EUA
Ano: 1959
Duração: 81 Minutos
Realizador: John Cassavetes
Cast:
Ben Carruters
Leila Goldoni
Hugh Hurd
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Barbarella (Barbarella)

No século 40, a astronauta Barbarella, em patrulha com a sua nave, é enviada pelo presidente da Terra para capturar o criminoso Duran Duran que inventou um arma num longínquo e desconhecido planeta, colocando em perigo a paz da galáxia, onde desde há séculos que não existem guerras.
Na sua busca por Duran, ela é seduzida por um humano residente em SoGo, Dildano (Hemmings), que a apresenta a uma nova modalidade de intercurso sexual, seduz um anjo cego chamado Pygar (Law) e destrói uma máquina do sexo destinada a matar de prazer aos que nela são colocados.
O filme, realizado em estilo de comédia erótica, narra as aventuras da heroína na sua busca e serve de pretexto para mostrar o corpo nu de Fonda em diversas situações de erotismo. A cena inicial em que ela - que se tornou um símbolo sexual mundial depois do filme - despe-se da roupa de astronauta em gravidade zero, tornou-se clássica do erotismo cinematográfico dos anos 60.
Filmado nos estúdios do produtor Dino De Laurentiis, em Roma, foi filmado ao mesmo tempo em francês e inglês (versão internacional), a maioria dos actores interpreta os papéis nas duas línguas. Fracasso de bilheteria e público no seu lançamento - apesar da grande campanha publicitária usando Jane Fonda, que chegou a posar para a revista masculina Penthouse. Com o tempo, o filme e sua banda-sonora, acabaram por se tornar de culto e uma referência com influências na cultura-pop, como o nome da banda de rock britânica Duran Duran.

Acção/Aventura/Comédia
País: EUA
Ano: 1968
Duração: 97 minutos
Realizador: Roger Vadim
Cast:
 Jane Fonda
John Phillip Law
Anita Pallenberg
Milo O'Shea
Marcel Marceau
Imdb
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Sombre (Sombre)

Uma história enigmática e hipnótica que utiliza a repetição para descrever a peregrinação de um brutal serial-killer de mulheres. Jean viaja pela França, levando como bagagem apenas as suas marionetes e uma fantasia de lobo. Ele tortura as mulheres que encontra e depois abandona-lhes o corpo sem vida num quarto de hotel, num bosque ou nas margens de um rio. É desajeitado, mal sabe falar e vive à margem da sociedade. Um dia, conhece Claire, uma jovem com o carro avariado à beira da estrada. Os dois acabam por se apaixonar, encontrando um no outro ecos de seus problemas. Ela é virgem, também desajeitada, e não consegue ultrapassar as barreiras para viver fora de seu próprio mundo. Uma fábula de terror que evita o terreno da psicologia para melhor captar as sensações visuais, sonoras e físicas do seu personagem. Sob essa óptica, o filme explora o uso da câmera ao ombro, iluminação escassa, imagens texturizadas e narrativa desconexa, criando um jogo de luzes que preserva o mistério irredutível dos protagonistas e do amor que os une. Primeira obra de Philippe Grandrieux, o filme libertou uma enorme onda de controvésia quando da sua estreia no festival de Locarno. Parte da crítica considerava o filme obsceno e confuso, enquanto outros consideravam uma obra de arte.
País: França
Ano: 1998
Duração: 112 minutos
Realizador: Philippe Grandrieux
Cast:
Marc Barbé
Elina Löwensohn
Géraldine Voillat
Coralie
Maxime Mazzolini
Imdb
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